Comer carne mata mais animais do que você imagina. Este é o slogan da nova campanha de impacto da subsidiária da ONG de proteção animal PETA na Alemanha. “Killer Cows” transforma as vacas em predadores cruéis para denunciar o impacto da cadeia produtiva agropecuária no meio ambiente. A criação é da agência alemã Fischer Appelt de Berlim.
Segundo um estudo recente, publicado na revista “Nature”, o consumo de carne teria de descer cerca de 90% para evitar alterações climáticas. Baseado no mais recente relatório das Nações Unidas sobre o meio ambiente, uma das soluções para evitar as alterações climáticas e o aquecimento global é a drástica diminuição do consumo de carne. As conclusões apontam para a necessidade de cada cidadão reduzir, em média, 75% do seu consumo de carne de vaca, 90% de carne de porco e comer metade da quantidade de ovos.
A proteína animal deveria ser substituída pelo consumo de legumes e leguminosas, que, segundo o estudo, deveria triplicar, enquanto que o consumo de frutos secos e sementes deveria quadruplicar. “Estamos arriscando a sustentabilidade de todo o sistema. Se estamos interessados em que as pessoas consigam comer e produzir, temos mesmo de reduzir o consumo de carne”, afirmou Marco Springmann, investigador e professor na Universidade de Oxford que liderou o estudo, em entrevista ao “The Guardian”.
O relatório da ONU aponta que a indústria agropecuária é responsável pelos maiores estragos a nível ambiental, desde o desmatamento até a contaminação de águas subterrâneas e oceanos, emissão de gases com efeito de estufa ou utilização de grandes quantidades de água potável.
Alternativa sustentável
Emissões de gases do efeito estufa geradas pela pecuária rivalizam com a pegada de carbono dos setores de transporte rodoviário, aéreo e espacial juntos. O alerta é da dupla de empreendedores norte-americanos Ethan Brown e Patrick O’Reilly, que encontraram alternativas suculentas para o consumo de carne animal. Suas empresas conquistaram recentemente o “Campeões da Terra”, o prêmio ambiental mais importante das Nações Unidas, concedido pela ONU Meio Ambiente.
Embora seja uma fonte diária de nutrição e prazer culinário para bilhões de pessoas, a carne animal é pouco sustentável. Segundo Brown e O’Reilly, não será possível cumprir as metas do Acordo de Paris sobre mudanças climáticas sem uma redução em massa na escala da pecuária.
Pensando em soluções para o problema, Brown fundou em 2009 a Beyond Meat, uma companhia que identificou os principais componentes da carne de origem animal para extrai-los de plantas. A empresa usa ingredientes como ervilhas, beterrabas, óleo de coco e amido de batata para produzir uma carne mais sustentável, mas igualmente saborosa.
“A carne é composta por aminoácidos (a base das proteínas), lipídeos (gorduras), minerais e água. Os animais usam os seus sistemas digestivo e muscular para transformar a vegetação e a água em carne. Nós estamos indo direto na planta, dispensando o animal e fabricando carne diretamente”, explica Brown. O atual CEO da Beyond Meat conta que sempre se questionou se não existiria um jeito melhor de produzir proteína para o consumo humano. Afinal, cerca de 80% das terras sob atividade agrícola são usadas para a produção de ração para o gado ou para a pastagem.
O professor de Bioquímica e membro da Academia Nacional de Medicina, Patrick O’Reilly, quer acabar com o uso de animais na produção de alimentos — uma prática que ele descreve como a “tecnologia mais destrutiva” do mundo. O problema, avalia o pesquisador, vai levar a humanidade a um “desastre ecológico”. Segundo o especialista, atualmente 45% da superfície do planeta Terra é utilizada para pastagem ou para o cultivo de vegetais transformados em ração para a pecuária.
À procura de um substituto para a carne animal, a equipe de O’Reilly descobriu um ingrediente mágico — o heme, uma molécula que tem ferro e é encontrada em todas as células de animais e plantas. Ela é a responsável pelos sabores e aromas da carne “tradicional”. O time do pesquisador viu ainda que, adicionando um gene de vegetal a células de levedura, era possível produzir a substância em quantidades ilimitadas, com uma fração minúscula do impacto ambiental.
As descobertas levaram à criação da Impossible Foods, que produz carne sem animais. A companhia fixou uma meta ambiciosa — promover a eliminação do uso de animais na fabricação de comida até 2035.