Por Maria Helena Passos
Informa a Organização Mundial de Saúde: a cada ano o mundo perde uma cidade de Santos por conta de acidentes de trânsito. Exatas 410 mil vidas. Nos Estados Unidos, pátria-mãe da indústria automobilística, os teenagers, que no Brasil não podem tirar carteira de habilitação somente porque são inimputáveis perante a lei, não só podem fazê-lo como lideram os grupos etários no ranking desse tipo de tragédia da modernidade.
A Pediatrics, revista técnica da US Pediatrics Academy, informa que a principal causa mortis entre 16 e 20 anos no país se dá entre motoristas ou passageiros de veículos adolescentes.Só em 2003, foram 6 mil teenagers em todo o país. Na Califórnia, onde residem 33 milhões de pessoas e a indústria automobilística tem seu maior filão de vendas nos Estados Unidos, depois de duas décadas em declínio e na contramão dos demais grupos etários, o índice de acidente de automóvel entre adolescentes voltou a subir em 2000.
Um estudo realizado pelo Traffic Safety Center acusou entre os 900 mil teenagers habilitados do estado, um índice superior a 543 colisões com morte a cada 10 mil motoristas entre 15 e 19 anos de idade. A proporção é mais que o triplo da registrada nos demais grupos etários. Não espanta, portanto, que a Toyota, montadora que acaba de alcançar a liderança mundial em vendas, mas ainda segue no segundo lugar no mercado norte-americano, tenha iniciado, há três semanas, um esforço singular de educação e comunicação de interesse público junto a super-jovem população motorizada do país.
Trata-se de quatro horas de aulas em fins-de-semana para teenagers e seus papais, composta de lições interativas e exercícios específicos do que chamam de “direção defensiva”. Em miúdos, como se antecipar ao perigo para escapar dele no trânsito. San Antonio, Detroit, Pasadena, Jackson, Gurnee, Clarkston e Chicago são algumas das cidades nas quais a Toyota já realizou o programa Driving Expectations. Com inscrição pela internet, o curso é gratuito, a montadora fornece os veículos e professores são homens e mulheres, ex-participantes de eventos automobilísticos e comerciais.
A mídia local anuncia em detalhes a iniciativa a cada cidade em que o programa desembarca. Separados dos filhos, os pais, todos de jovens recém-habilitados, não só reciclam suas práticas diante do perigo _quando as têm_ , como aprendem a estabelecer parâmetros de condução para seus pimpolhos, o que quase nunca usam fazer.
A iniciativa, largamente propagandeada, é um passo além no setor automotivo. Usualmente, as montadoras tratam do assunto limitando-se a anunciar reforços de sistemas de segurança em seus modelos. Quando se preocupam com os motoristas, nunca vão além de tímidos manuais. No Brasil, onde o Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (IPEA) calculou um custo anual de R$ 10 bilhões em acidentes de trânsito, eles matam 30 mil pessoas por ano e a Toyota ainda ocupa lugar discreto no ranking das vendas de veículos. Seria, por certo, mais que bem-vinda eventual adoção de similar iniciativa dedicada aos maiores de 18 anos.
Maria Helena Passos é jornalista
helenawf@uol.com.br.