Sangue desperdiçado
Você já parou para pensar na quantidade de vidas que são prejudicadas pela homofobia? E desta vez não estamos falando apenas do público LGBT, mas também daqueles que poderiam ser ajudados por se estivéssemos em um país livre do preconceito. Enquanto o Ministério da Saúde determina que homens que se relacionam sexualmente com outros homens são inaptos a doar sangue, milhares de pessoas estão na espera por uma doação que possa salvar suas vidas. As regras são contraditórias. Outra norma do próprio Ministério afirma que os serviços de hemoterapia não podem manifestar qualquer tipo de discriminação em relação à orientação sexual do doador.
A quantidade se sangue que poderia ser doada por essas pessoas equivale à um caminhão de sangue por dia. A All Out, movimento global de defesa dos direitos da comunidade LGBT, encontrou uma forma bem criativa de protestar e chamar a atenção para esse “desperdício de sangue”. Ela levou para as ruas da cidade de São Paulo um caminhão expondo a quantidade de bolsas de sangue que poderiam estar nos bancos de hemocentros de todo o país neste momento se os homossexuais pudessem doar. Ou seja, um caminhão inteiro!
E isso não é um problema exclusivo do Brasil. A doação de sangue por doadores gays e bissexuais ainda é tema polêmico em muitas partes do mundo. Tanto que esta ação faz parte de uma campanha internacional chamada #WastedBlood (Sangue Desperdiçado, em português). A campanha da All Out é criação da agência África em parceria com a empresa Truckvan – que forneceu os caminhões. “O Ministério da Saúde argumenta que a proibição visa a assegurar a qualidade do sangue coletado. No entanto, todo o sangue colhido em bancos públicos e privados do Brasil deve obrigatoriamente passar por testes que permitem a identificação de vírus como o HIV e HCV, que causa a Hepatite tipo C”, afirma Leandro Ramos, Diretor de Programas da All Out. Ele ainda afirma que o objetivo da campanha é mostrar que, ao não reconsiderar essa proibição, o Brasil não só desperdiça litros de sangue como também impede o diálogo e reforça estereótipos.
A África ainda desenvolveu uma plataforma online para a campanha, onde homens gays e bissexuais podem entrar em uma fila virtual de doadores através de um cadastro simples. A ideia é mostrar a quantidade de pessoas dispostas a doar sangue – mas que são impedidas – e a quantidade de sangue potencialmente desperdiçado. Até o momento, o site conta com 556 doadores na fila de espera. Isso equivale à 250 litros de sangue desperdiçados – suficiente para ajudar mais de 2,2 mil pessoas. A plataforma está disponível em português, inglês e espanhol no site wastedblood.com.br.