por Maria Helena Passos
Verdadeiro trabalho de formiguinhas. a Campanha da Fraternidade, iniciativa da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil há 43 anos para difundir, na prática, tal valor humano entre seu rebanho, começou em 21 de fevereiro último associada, pela primeira vez, a uma região específica do país: a Amazônia.
Trata-se de empreitada que atinge metade da população brasileira em propaganda, sermões, debates e ações comunitárias, estima a Caritas brasileira, gerente do fundo nutrido por 40% dos recursos angariados pela coleta anua nas igrejas das 9800 paróquias do Pais, todo domingo de Ramos. O restante é gerenciado pelas 270 dioceses.
Em franca evolução, em 2006, a CF tratou de problema existente por toda parte _ o dos deficientes físicos. Arrecadou R$ 9,5 milhões. Esse dinheiro foi pra projetos e iniciativas que melhorassem a vida desse contingente de brasileiros, assim como este ano irá para projetos sócio-ambientais na Amazônia. Dada a penetração da Igreja e a modernidade da Campanha, que durante toda a quaresma coloca meio minuto de inserção publicitária na televisão, Vitelio Pasa, da Caritas brasileira, é firme na estimativa do alcance da campanha. O grau de envolvimento, é claro, sempre depende do tema. Por exemplo: o da Paz foi intensamente debatido pelo país, mas gerou arrecadação modesta. Já o dos Povos Indígenas, nem uma coisa nem outra. Deficientes Físicos rendeu mais dinheiro que debate.
A expectativa da coleta de 1 de abril de 2007 é singular dada a especificidade regional do tema. Longe de refletir eventual oportunismo ao agregar-se à crescente conscientização politicamente correta da responsabilidade ambiental, ela será fruto de uma campanha que põe o homem no centro da questão amazônica, ao contrário do debate usual sobre a região.
A CF navega na contracorrente de órgãos de comunicação pública como o Jornal do Brasil que, em reportagem e editorial de 25 de fevereiro último, chamou os índios de Roraima de brabos e guerrilheiros. Mais: confundiu com doação governamental, um direito constitucionalmente assegurado – a outorga de terras indígenas demarcadas. Ambos os textos, inequívoca contribuição à desinformação pública a propagar preconceitos e retrocessos.
Maria Helena Passos é jornalista