Frases machistas e “piadinhas” também reforçam a cultura do estupro. Aliás, já passou da hora de parar com o machismo. Protagonizado pelo ator Thiago Fragoso, o novo filme da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres (SPM) para o Dia Internacional da Não Violência contra a Mulher (25/11) marca também a adesão do Brasil à mobilização mundial 16 Dias de Ativismo pela Eliminação da Violência Contra a Mulher, em parceria com a ONU Mulheres.
Com o conceito “Machismo. Já passou da hora. #PodeParar”, a peça mira nos homens. “São as ações no dia a dia, que muitas vezes praticamos sem perceber, que fomentam a violência sexual, doméstica e até mesmo o feminicídio. Essas ações explicam, por exemplo, o resultado de pesquisas como a que considera a mulher culpada pelo estupro que sofre. É isso que precisamos combater”, explicou a secretária Especial Fátima Pelaes, no lançamento da campanha. A criação é da Propeg.
16 dias de ativismo
A Campanha “16 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra as Mulheres” é uma mobilização anual lançada em 1991 e tem a adesão de cerca de 160 países. A campanha inicia em 25 de novembro, Dia Internacional pela Eliminação da Violência contra a Mulher, e vai até 10 de dezembro, o Dia Internacional dos Direitos Humanos, passando pelo 6 de dezembro, que é o Dia Nacional de Mobilização dos Homens pelo Fim da Violência contra as Mulheres.
Machismo
A pesquisa do Datafolha em parceria com Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) acendeu o debate em torno do assunto no país. Realizada em agosto, mostrou que mais de 1/3 da população brasileira (33%) considera que a vítima é culpada pelo estupro. A pesquisa mostrou ainda que 65% da população têm medo de sofrer violência sexual.
Segundo o Anuário Brasileiro de Segurança, divulgado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, foram 45.460 casos de estupro no país em 2015. São cerca de 125 vítima por dia, ou seja, cerca de 5 mulheres violentadas por hora.
De acordo com a SPM, o tema da campanha do Governo Federal para a edição de 2016 da mobilização teve como base os dados do serviço Ligue 180. O serviço registrou um aumento de 147% de relatos de estupro no primeiro semestre de 2016, comparado ao mesmo período de 2015. O número representa 13 relatos por dia.
Dos 67.962 relatos de violências registrados na Central, entre janeiro e junho de 2016, 32% não foram registrados pelas próprias vítimas, mas por pessoas próximas. A secretaria considera esta uma notícia positiva, em seu site: “significa uma maior conscientização da sociedade sobre o fenômeno da violência de gênero, indicando que cada vez mais amigos/as, familiares e vizinhos/as ligaram para o Ligue 180 a fim de relatar situações de violência sofridas por mulheres.”
Na Europa também
O machismo e a cultura do estupro não são “coisas nossas”. De acordo com uma reportagem publicada no jornal El País, cerca de 27% dos cidadãos da União Europeia acreditam que há justificativa para o abuso sexual em determinadas circunstâncias. O estudo foi realizado em 28 países e publicado pela Comissão Europeia na quinta-feira passada (24/11). Quase um em cada três europeus acredita que ter “relações sexuais sem consentimento” pode estar “justificado” se a mulher tiver bebido mais da conta ou tomado drogas, se convidou seu acompanhante para entrar em sua casa, se está vestida com roupas descritas como “sugestivas” ou não disse claramente que não nem resistiu fisicamente.
A pesquisa mostrou várias incoerências entre o que os europeus acham aceitável e realmente agem. Por exemplo, 96% dos europeus afirmam que a violência doméstica é inaceitável em qualquer caso. Entretanto, 22% revelaram que sofreram agressões físicas ou sexuais em casa cometidas por seu parceiro. Apesar de 95% acreditar que em nenhum caso deve existir toques impróprios em colegas de trabalho, três de cada quatro diretoras de empresas tiveram que lidar com isso em alguma ocasião. E se 9 de cada 10 entrevistados afirmam ser contrário a comentários sexualmente sugestivos na rua, 24% das mulheres já passou por isso alguma vez.
E embora uma de cada três europeias maiores de 15 anos já tenha sofrido alguma violência sexual ou psicológica, 15% dos entrevistados acreditam que o “problema” deve ser resolvido dentro da família. Um em cada quatro entrevistados afirma conhecer uma mulher vítima de abuso, mas dos 71% que decidem discutir isso com alguém, só uma minoria entra em contato com a polícia.