O Brasil ocupa a 102ª posição num ranking de 144 países listados entre os piores para as meninas, de acordo com o mapa interativo da ONG Save The Children (confira a ilustração abaixo). A colocação no ranking só não é pior porque mortes maternas e gravidez na adolescência não estão tão ruins em relação aos outros países. Porque nos quesitos casamento infantil (35% das meninas brasileiras se casam antes dos 15 anos) e representação política (9%) é bem ruim. Também não é nada alentador saber que apenas 65% das brasileiras fiquem nas escolas até os 16 anos. Os dados são do estudo inédito Every Last Girl, realizado pela Save The Children em 144 países e divulgado hoje (11/12).
Um dos dados mais impressionantes é o casamento infantil, antes dos 15 anos: a cada 7 segundos, uma menina se casa. Em países como o Afeganistão, Iêmen, Índia e Somália, a maioria se casa até os 10 anos. “O casamento infantil inicia um ciclo de desvantagens que nega às meninas os direitos mais básicos para aprender, desenvolver e ser crianças”, disse a CEO da Save the Children Internaciona, Helle Thorning-Schmidt, em entrevista à BBC. “Muitas vezes, não podem frequentar a escola e são mais propensas a enfrentar a violência doméstica, o abuso e o estupro. Eles engravidam e estão expostas a DSTs (doenças sexualmente transmissíveis), incluindo o HIV.”
Piora com as guerras
O relatório diz que as meninas afetadas por conflitos são mais propensos a se tornarem noivas-crianças. Muitas famílias de refugiados casam suas filhas como uma maneira de protegê-las da pobreza ou a exploração sexual. É o caso da refugiada síria de 13 anos de idade no Líbano que era casada com um homem de 20 anos de idade. Agora, 14 anos, ela está grávida de dois meses.
O depoimento dela está no relatório da Save The Children: “O dia do casamento, eu estava imaginando que seria um grande dia, mas não era. Era toda a miséria. Estava cheio de tristeza. Eu me sinto muito abençoada por ter um bebê. Mas eu sou uma criança para criar um filho.”
O relatório diz que as meninas também sofrem durante as crises humanitárias, como o surto de Ebola em Serra Leoa, onde o fechamento de escolas levou a um número estimado de 14.000 adolescentes grávidas. A Unicef estima que o número de mulheres casadas na infância crescerá dos atuais 700 milhões para cerca de 950 milhões em 2030.