Criola :: Espelhos do racismo from BossaNovaFilms on Vimeo. Atualização em 21/6/2015: esta campanha ganhou um Leão de Bronze no Festival de Cannes 2016.
Desde o dia 6 de novembro, outdoors instalados em cinco pontos da cidade de Porto Alegre chamam a atenção com enormes imagens de mensagens racistas feitas pela internet. São mensagens reais, escolhidas pela ONG carioca Criola, para promover a campanha Espelhos do Racismo, cujo slogan é “Racismo vitual. As consequências são reais”. Em parceria com a W3haus, a ONG usou ferramentas de rastreamento para localizar não apenas a cidade de onde surgiram 50 desses comentários, mas também o endereço aproximado. Com esses dados, firmou parcerias com empresas de mobiliário urbano e expôs cada comentário na forma de outdoors e peças de mídia exterior nas proximidades dos locais mapeados – provavelmente perto dos autores.
O objetivo é mostrar que os comentários racista na internet podem causar danos reais. Para as vítimas, a dor e o constrangimento. Os autores, no entanto, podem sofrer processo criminal. A ideia da ONG, que atua pela defesa e promoção de direitos das mulheres negras, surgiu após a jornalista Maria Julia Coutinho (Maju) ter sido alvo de uma onda de comentários racistas na página do Jornal Nacional no Facebook, em julho deste ano.
Para a ONG Criola, além de mobilizar a sociedade, a campanha é um alerta para os agressores: existem sim consequências reais para o racismo no ambiente virtual. Com os rostos dos autores omitidos nas peças, a integrante da ONG, Jurema Werneck explica que a intenção não é expor os agressores, mas alertá-los que não é dificil identificá-los. “É um alerta. Normalmente, quem faz esse tipo de comentário está em casa ou no escritório, se sentindo confortável e protegido, acreditando no anonimato”, argumenta Jurema. O objetivo deixar claro que o autor o insulto virtual também faz parte do mundo real de quem comete a injúria”, diz Jurema em entrevista ao Portal G1.
Neste mês, que é comemorado o Dia da Consciência Negra (20 de novembro), um outro caso de racismo virtual no Rio de Janeiro gerou uma onda de indignação. Em sua página oficial do Facebook, a atriz Thais Araújo também foi alvo de diversos ataques. “Já voltou pra senzala?” e “Entrou na Globo pelas cotas“, foram alguns dos comentários absurdos deixados por usuários escondidos em perfis falsos.
As peças veiculadas durante a campanha foram também expostas no dia 9 de novembro no Centro Cultural Municipal Parque das Ruínas em um debate que reuniu membros da ONG Criola e pessoas especializadas na questão do racismo. No dia 18, elas também foram destaque na primeira Marcha de Mulheres Negras em Brasília, que tem como tema: “Contra o Racismo e a Violência e pelo Bem Viver”. Além de Porto Alegre e Rio de Janeiro, as ruas de Feira de Santana, Vila Velha e Guarulhos também já exibem as peças da campanha. “Temos frases para colocar em todo o país. Infelizmente”, lamenta-se Jurema. Para saber mais sobre a campanha, acesse www.racismovirtual.com.br.
Segundo a Secretaria de Políticas Públicas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), o número de denúncias de racismo virtual praticamente dobrou nos últimos anos. Passou de 219 denúncia em 2011 para 425 em 2014. Mas, para a Seppir, esse aumento no número de registro de denúncias deve também ser visto como um ótimo indício de que a população está mais consciente da gravidade do problema e se sente mais confiante para denunciar. A injúria racial está prevista no Artigo 140, com pena de um a três anos e multa.