Publicado por UOL Equilíbrio, em 18/07/2016
Algumas pessoas ainda confundem e enxergam o feminismo como um “machismo das mulheres”. Segundo as ativistas, o movimento existe para mudar a realidade opressora que cada mulher vive –muitas vezes silenciosamente. E não oprimir o sexo masculino, o que acaba sendo o motor do machismo.
Para entender melhor o feminismo, o UOL fez uma lista com sete questões para esclarecer que a corrente de pensamento não é contrária aos homens, à família ou à maternidade, mas simplesmente busca a igualdade de gênero. Veja a seguir.
1. Por que o feminismo não é uma versão feminina do machismo?
De acordo com Amana Mattos, professora de psicologia da UERJ (Universidade Estadual do Rio de Janeiro) e pesquisadora do Degenera (Núcleo de Pesquisa e Desconstrução de Gêneros), o feminismo é uma luta contra o machismo, e não o seu oposto. “O machismo pauta as relações de maneira que determinadas minorias –em especial as mulheres, mas também homens que não se adequam aos ideais machistas de masculinidade, como é o caso de gays e homens trans– sejam oprimidas cotidianamente. Já o feminismo luta para acabar com as opressões e a desigualdade de gênero.”
2. O feminismo quer oprimir os homens?
Amelinha Teles, diretora da ONG União de Mulheres de São Paulo, afirma que essa máxima é falsa e propagada pelos próprios machistas. “Pelo contrário, as feministas lutam pelos direitos da sociedade como um todo. Entendemos que não adianta termos os nossos direitos e tirarmos os dos outros.” Para provar sua afirmação, Amelinha cita o apoio do movimento à licença-paternidade. “Não queremos o poder dos homens, o empoderamento é para todos. As feministas falam que temos o direito de chegar ao poder –social e político–, mas não excluímos o direito do sexo masculino.”
3. E o que significa “feminazi” então?
As ativistas explicam que “feminazi” é um termo que demonstra uma ignorância estratégica para maldizer as lutas feministas. “Os machistas nos chamam assim para desqualificar a nossa luta, dizer que somos histéricas e que estamos impondo nossa opinião. Dessa forma, tentam ridicularizar nossos objetivos”, declara Lola Aronovich, professora do Departamento de Letras Estrangeiras da UFC (Universidade Federal do Ceará).
4. Feministas são contra relações heterossexuais e a maternidade?
A blogueira feminista Lola conta que já ouviu todo tipo de estereotipagem sobre as ativistas: não se depilam; são lésbicas; odeiam os homens porque queriam ser como eles e têm inveja do pênis, entre outros absurdos. Entretanto, Lola, que é casada com um homem há 25 anos, afirma que nada disso é verdade. “O feminismo é plural e existe para diferentes causas. Existem ativistas maternas, raciais…. Ser dona de casa, casada e mãe não impede a mulher de ser feminista. Lutamos contra a obrigatoriedade de ser mãe e casada e para aquelas que não são nenhuma dessas duas coisas não sejam excluídas. Acreditamos que a mulher tem o direito de escolher o que quer para a própria vida, além das imposições machistas que ainda sobrevivem na sociedade patriarcal.”
5. O feminismo também é para os homens?
Sim, o movimento quer também acabar com o “pedágio” pelo qual os homens são obrigados a passar durante toda a vida em consequência da sociedade machista. “O machismo cobra o modelo machão, que não chora, não pode manifestar emoções, abraçar um amigo. O machismo é uma camisa de força e limita as escolhas e as oportunidades, tanto dos homens quanto das mulheres”, declara Lola.
6. Quais as lutas do feminismo?
Em linhas gerais, o feminismo enfrenta a discriminação histórica contra as mulheres, que nega a mulher como indivíduo em diferentes frentes sociais. O feminismo luta contra essa realidade a fim de promover o protagonismo das mulheres em defesa dos direitos básicos, como o de terem autonomia e poder de decisão sobre o próprio corpo, cidadania e sexualidade. Porém, o plural da palavra –feminismos– é mais sabidamente utilizado pelas ativistas por se tratar de uma luta contra todas as opressões, não só a de gênero. Por isso, você não pode se dizer feminista e ser racista ou homofóbica.
7. Como o feminismo vê a violência contra a mulher?
O feminismo deseja que o feminicídio acabe e que as mulheres deixem de ser alvo de agressões nas redes sociais. A ONU (Organização das Nações Unidas) estima que 95% de todos os comportamentos agressivos e difamadores na internet tenham mulheres como alvo. O movimento quer que elas possam andar na rua e ter relacionamentos sem medo de serem atacadas. A feminista Lola Aronovich, por exemplo, já sofreu ameaças de morte por ter um blog que defende a causa. Entretanto é otimista e diz acreditar que ainda pode demorar, mas que o feminismo se tornará obsoleto. “Acho que, em geral, o que vemos na internet não reflete de fato a realidade. Os comentários realmente são terríveis, mas acredito que existem grupos organizados para espalhar visões sexistas e isso dá a impressão de que o mundo é machista.”