Por Mauricio Lara
Um governante deve satisfações à sociedade e, se está sendo atingido por alguma denúncia, é natural que procure se defender. Inclusive porque, em nosso País, nem sempre o acusado tem a presunção da inocência; ao contrário, acaba tendo que se submeter ao ônus de demonstrar essa inocência. Foi o que tentou fazer o governador do Maranhão, Jackson Lago, ao publicar “nota oficial” do governo do Estado.
Sobre a nota, cabem uma afirmação e um questionamento. A afirmação: infelizmente para ele, a nota é pra lá de desastrada. A pergunta: quando é legítimo pagar com recursos públicos uma nota oficial que defende uma pessoa física, no caso, um governador?
Em um quarto de página, o governo do Maranhão tenta rebater, uma a uma, as acusações que teriam atingido o governador, envolvido justa ou injustamente na Operação Navalha da Polícia Federal. Sem entrar no mérito do episódio, sem tentar fazer qualquer julgamento quanto à culpa ou inocência do acusado e sem negar que a nota contém várias explicações em seu conteúdo, é preciso observar que, na forma, alguém deu um tiro no pé do governador.
A nota tem seis títulos de itens e, na seqüência de cada um, a explicação para os fatos, ou para “a versão dos fatos, amplificada na mídia nacional”, como quer demonstrar o governador. O erro crasso está em listar as tais “versões” na forma como ficou montado o “enredo”, como diz o texto, na repercussão da mídia. Grafados em negrito, os títulos chamam a atenção para o fato (ou versão do fato) no negativo. Vejam exemplos: “Jackson Lago foi acusado de ter recebido propina”, “O governador beneficiou a Gautama na BR402” e “O Estado construiu pontes inúteis no meio do mato”. Abaixo de cada título, texto cuidadoso tenta desmontar cada uma das afirmações.
É ingênuo, muito ingênuo, pensar que os leitores vão se debruçar sobre os textos explicativos. O que salta aos olhos de qualquer um são os títulos em negrito que reafirmam os fatos ou as versões dos fatos, como circularam na imprensa no auge de Operação Navalha. É fato sabido, muito sabido, que nota oficial de quem quer que seja não é a leitura preferida de ninguém que está com um jornal na mão.
Agora, a pergunta. Publicar nota oficial paga com recursos também oficiais, ou públicos, exige legitimidade. Ou seja, é preciso ter clareza que muito mais do que a defesa de um governador, da pessoa física, o espaço seja utilizado para esclarecer a opinião pública sobre fatos que, eventualmente, não tenham ficado claros na cobertura da imprensa. E esse esclarecimento deve estar subordinado a uma única lógica: a do interesse público, que contemple o soberano direito da sociedade à informação.
Fora disso, fica o risco de fazer duas combinações danosas: uma nota ruim na forma, que ajuda muito pouco no reparo de eventuais danos de imagem; e uma despesa com pouca legitimidade, que arranhe o preceito constitucional de que dinheiro público só pode ser gasto em material publicitário com conteúdo informativo, educativo ou de orientação social. O público não é o que não tem dono, é o que pertence a todos.
Maurício Lara é Secretário de Comunicação da PUC Minas e sócio da Lara Agência de Comunicação e Pesquisa Ltda.