Não seja idiota

14/08/2017

Em 1947, o Departamento de Guerra dos EUA lançou “Do not Be a Sucker” (Não Seja um Idiota) para ilustrar como os americanos poderiam perder seu país se eles dessem poder ao ódio. O filme originalmente com 17 minutos – a gente trouxe a versão legendada e editada pela BBC – viralizou nos últimos dois dias nas redes sociais após as manifestações racistas em Charlottesville, que matou três pessoas e deixou dezenas de feridos. A gente traduziu:

“Mike tem algo, certo? Ele tem a América. Mas tem uns sujeitos que passam a noite pensando numa maneira de tirar as coisas de você.” – diz a narração. “Eu conheço os fatos, amigos. Sou apenas um americano médio. Mas sou um americano-americano. E algumas das coisas que vejo no nosso país faz meu sangue ferver. Eu vejo pessoas estrangeiras bem instalados. Eu vejo negros em postos de trabalho que pertencem a mim e a você. Eu pergunto: como permitimos estas coisas acontecerem?”, vocifera um homem num palanque.

Assistindo, desolado, um senhor fala para o personagem Mike lá do início do filme: “eu já ouvi essa conversa antes. Mas não esperava ouvi-la na América!”. O sujeito do palanque mostra um panfleto que diz ter a ‘verdade sobre negros e estrangeiros’ no país. Corta para o diálogo do Mike com o senhor. “Você acredita no que ele diz?”, pergunta a Mike. “Parece fazer sentido para mim”, responde o crédulo Mike. O cara do palanque continua: “este país nunca será nosso enquanto não for livre de negros, livre de estrangeiros, livre de católicos, livre dos Masons (sobrenome)”.  Aí o Mike reage: “O que tem de errado com os Masons? Mas eu sou um Mason. Aquele cara está falando sobre mim!” E o senhor ao seu lado retruca: “e isso faz a diferença, não é? “. No palanque, o sujeito diz que estes são os inimigos a serem combatidos e destruídos.

O senhor cutuca Mike. “Antes dele citar o seu sobrenome, você estava disposto a concordar com ele, não é mesmo?”, questiona. “Sim, mas ele estava falando sobre outras pessoas”, responde Mike. “Mas, neste país, a gente não tem outras pessoas. Temos americanos”, diz o senhor, que revela ter nascido na Hungria e ser, atualmente cidadão americano. Ele acrescenta que viu este tipo de conversa em Berlim, no discurso dos nazistas. “Na época, eu era tolo. Achava que eram estúpidos e fanáticos. Mas, infelizmente, estava errado. Veja, eles não tinham poder para conquistar toda a Alemanha, então dividiram-na em pequenos grupos que usaram os preconceitos como arma para fisgar a nação”, explicou.”Veja, nós seres humanos, não nascemos com preconceitos, eles (os preconceitos) foram inventados por alguém para conseguir alguma coisa.”

De acordo com o  Washigton Post o filme de propaganda antifascista  com quase 75 anos é uma boa resposta para o horror visto na violenta passeata de supremacistas brancos. “Não seja um Idiota” é um conto cauteloso de 17 minutos sobre a complacência diante do ódio e da xenofobia. Produzido pelo Departamento de Guerra dos EUA em 1943 e atualizado em 1947, encontrou nova relevância para a audiência do século XXI horrorizada pelos neonazistas e os nacionalistas brancos.

Bandeira nazista e dos confederados na manifestação em Charlottesville

O filme foi compartilhado por políticos e celebridades. Entre eles, Michael Oman-Reagan, pesquisador e antropólogo canadense, o clipe de “Não Seja um Idiota”, já foi compartilhado mais de 150 mil vezes.

Para finalizar, a lição do professor de “Não seja um Idiota”: “Se permitimos que qualquer minoria perca sua liberdade por perseguição ou por preconceito, estamos ameaçando nossa própria liberdade. E isso não é simplesmente uma idéia. Este é um bom senso comum.” Abaixo, o filme completo.