Atualização 23/6/2013: esta campanha ganhou dois Leões no Festival de Cannes 2016.
O caso da adolescente que foi estuprada por mais de 30 homens causou uma grande comoção no Brasil e trouxe à tona a discussão sobre a cultura, muitas vezes velada, da violência contra a mulher. Dados da Central de Atendimento à Mulher – Ligue 180 indicam um aumento de 44,74% de casos deste tipo e violência em 2015. As mais de 75 mil denúncias representam um caso a cada sete minutos no Brasil.
Esses são apenas os casos denunciados. Mais preocupante ainda são os não denunciados, muito por conta da cultura do estupro – um fenômeno mundial – que colabora com a impunidade. Um exemplo são as inúmeras letras de músicas que reproduzem violência contra mulher e, ainda assim, se tornam sucesso absoluto, como se estivessem falando de algo natural e aceitável. Para incentivar este debate, a FCB Brasil e o jornal O Estado de S. Paulo lançaram a campanha “Músicas de Violência”.
Por meio do aplicativo de música Shazam – que identifica instantaneamente a música que está sendo tocada em um ambiente – o projeto faz mapeamento das músicas com letras com apologia à violência contra a mulher. Com apoio do Disque Denúncia do Rio de Janeiro, o áudio traz depoimentos reais de mulheres que sofreram justamente o abuso retratado pela música pesquisada. Foram selecionadas mais de 300 músicas nacionais e internacionais. Mais de 1 milhão de usuários do Shazam já foram impactados pela ação. Em entrevista ao AdNews, a CCO da FCB, Joanna Monteiro, ressalta que a ideia da campanha não é censurar nenhuma música, mas apenas convidar as pessoas para uma reflexão através das músicas que elas costumam escutar.
Cultura do estupro
A revista Galileu traz uma ótima matéria sobre o tema que a gente reproduz um trecho (leia tudo aqui). O termo foi cunhado na década de 70 por feministas americanas e, de acordo com o Centro das Mulheres da Universidade Marshall, nos Estados Unidos, é utilizado para descrever um ambiente no qual o estupro é predominante e no qual a violência sexual contra as mulheres é normalizada na mídia e na cultura popular.
Ao disseminar termos que denigrem as mulheres, permitir a objetificação do corpos delas e glamurizar a violência sexual, a cultura do estupro passa adiante a mensagem de que a mulher não é um ser humano, e sim uma coisa. “Vivemos em uma sociedade patriarcal que considera que nós mulheres somos ou sujeitos de segunda categoria, ou em alguns casos, que não somos sujeitos e podemos ser utilizadas ou destruídas”, explica Izabel Solyszko, que é professora, assistente social e doutoranda em Serviço Social na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).