Histórias de uma Guerra Perdida
Por Marcelo Nascimento
Jornalista, participante do Desafio CQM
Produzi o documentário Histórias de uma Guerra Perdida em 2014, como trabalho de conclusão do curso de jornalismo, na USP, com o objetivo de abordar a questão da guerra às drogas sob um viés um pouco diferente do que é comum, mostrando o ponto de vista daqueles que talvez sejam os mais afetados por essa política proibicionista: os próprios usuários.
Escolhi esse tema por perceber que as leis de drogas eram não só ineficazes, como criavam mais problemas do que as próprias substâncias em si. O proibicionismo teve como consequência uma guerra sem sentido, que gerou uma série de outros problemas, como o estigma sobre o usuário e a violência relacionada ao tráfico, sem passar ao menos perto de resolver a questão do abuso de substâncias psicoativas.
Isso sem falar na total falta de coerência dessa diferenciação entre drogas lícitas, como álcool e tabaco, e ilícitas, como maconha, cocaína e etc. Durante minha pesquisa, percebi que essa divisão não se deu exatamente por conta dos danos gerados pelas substâncias em si, mas muito mais por questões culturais, com um objetivo de repressão e criminalização de certos grupos já marginalizados.
A partir dessa constatação inicial, conversei com meu orientador, Renato Levi, e chegamos à conclusão de que seria interessante tratar esse tema com um foco nos usuários, por essa não ser uma abordagem muito comum no meio audiovisual.
Assim, o filme mostra a história de Rogério Guimarães, ex-usuário de crack e morador de rua, que sofreu diretamente diversos efeitos dessa guerra. Ele foi preso por tráfico, como ainda acontece com muitos usuários no Brasil, e foi internado em uma clínica que utiliza a abstinência como único meio de tratamento, o que é, na maior parte dos casos, ineficaz. Isso sem falar em todo o estigma e preconceito sofrido por pessoas que abusam de substâncias psicoativas.
Além do depoimento de Rogério, o filme traz entrevistas com especialistas em diversas áreas relacionadas ao tema. Entre eles, estão o historiador Henrique Carneiro, especialista em história dos alimentos e das drogas; o juiz José Henrique Torres, membro do LEAP Brasil (Agentes da Lei Contra a Proibição, em português); Renato Filev, biomédico e membro do Programa de Atendimento a Dependentes (Proad), da Universidade Federal de São Paulo; e Bruno Gomes, psicólogo e coordenador do Centro de Convivência É de Lei, ONG que atua com redução de danos para dependentes de substâncias químicas, no centro de São Paulo.
Foi por ter essa certeza, de que a criminalização das drogas traz danos terríveis para nossa sociedade, que me inscrevi para participar do Desafio CQM. Foi para ter a oportunidade de criar uma campanha de conscientização sobre os benefícios de uma possível descriminalização da maconha.
Acho essencial que trabalhemos para desmistificar essa questão em nossa sociedade, informando o público sobre os reais danos e riscos relacionados à maconha, e principalmente mostrando o quão prejudicial é essa criminalização, que afasta os usuários dos sistemas de saúde, aprisiona uma enorme quantidade de pessoas por simplesmente escolher usar uma substância, e gera toda essa violência relacionada ao tráfico de drogas.
Aqui está o documentário na íntegra, assista e veremos se, pra você, meu ponto faz sentido.