Nessa última semana duas campanhas pela igualdade de gêneros chamaram a atenção na internet. O mais interessante é que ambas têm uma semelhança em suas estratégias de abordagem: fazer os homens sentirem na pele o que as mulheres costumam passar em uma sociedade ainda machista.
A primeira delas ocorreu aqui mesmo no Brasil. O restaurante paulistano Ramona teve a ideia de chamar a atenção para o fato das mulheres terem um salário, em média, 30% mais baixo que o dos homens para executarem a mesma função. Para provar o impacto dessa diferença na prática, o restaurante e a agência Agnelo criaram a ação “The Unfair Menu” (O Menu Injusto), uma pegadinha gravada em março e divulgada na web ontem (16).
Na ação, o olharem seus cardápios os clientes eram surpreendidos com a observação de que os homens deveriam pagar 30% a mais do valor de seus pedidos produto. As reações indignadas foram imediatas, como esperado. “Que brincadeira é essa de cobrar mais dos homens? Um absurdo”, protestou um dos clientes. “Eu me recuso a pagar isso”, afirma outro. Até mesmo as mulheres que acompanhavam se revoltaram.
Após as refeições e muitas reclamações, o gerente trazia junto com a conta uma nota explicativa esclarecendo as diferenças de salários entre os gêneros e que a cobrança a mais é tão injusta quanto os 30% a menos nos salários das mulheres. “Então, nada mais justo que cobrar mais dos homens pelos mesmos serviços”, dizia a nota.
Claro que tudo não passou de uma pegadinha. Portanto, os homens não precisaram pagar os 30% a mais. Mas segundo a idealizadora da campanha, Camila Gurgel, afirmou que a ação conseguiu mexer com alguns clientes a ponto de sentirem vergonha de terem se recusado a pagar a cobrança extra. Alguns inclusive, fizeram questão de pagar os 30% a mais. “Vimos que o feminismo passou a ser amplamente discutido nas redes sociais e a publicidade não fica de fora dessas discussões. O público já não aceita marcas com posicionamento machista e elas precisam se retratar frequentemente”, disse ao site Catraca Livre.
Aplicativo contra o assédio nas ruas
A outra ação é criação da associação francesa Stop Harcèlement de Rue (Pare com o Assédio de Rua). Para aproveitar a 5ª edição da Semana Internacional contra o Assédio nas Ruas, a associação lançou o aplicativo “Hé!”, que pretende mostrar aos homens como é desconfortável ser alvo de assédio nas ruas e que isso vai muito além de frescura das mulheres. “A não ser que você já tenha sido uma vítima se assédio, é difícil perceber como isso é opressivo”, explica o vídeo de lançamento do aplicativo.
Disponível para iOS e Android, o Hé! é inspirado no famoso e simples aplicativo Yo! (que permite enviar “Yo” aos seus contatos). Mas com uma pegadinha. Sem a permissão do usuário, um usuário falso e desconhecido se adiciona aos contatos e começa a enviar simples “Hé!”, insistentemente. Após um tempo, as mensagens mudam para “ Achei você sexy” ou “Olhe para mim quando eu estiver falando.
Assim que o usuário se cansa e bloqueia o intruso de seus contatos, ele recebe uma mensagem: “Hoje você conseguiu fugir. Mas para muitas pessoas o assédio na rua é um problema diário”. A mensagem é seguida por um link da associação e encoraja as pessoas a compartilharem essa experiência do aplicativo com os amigos.