Publicado por Ondda, em 18/07/2016
O funk é um gênero musical que causa muita polêmica. As músicas geralmente têm conotação sexual pesada, violência e machismo. Mas nem sempre isso acontece. Alguns artistas usam o funk para criar letras e músicas que nos fazem pensar e refletir sobre problemas sociais da atualidade.
Normalmente, o gênero musical periférico que discute pautas sociais é o Rap, mas cada vez mais pessoas do Funk estão aderindo a certas causas e incorporando-as em suas letras. Cantoras como Mc Carol e Valesca Popozuda estão usando o gênero para discutir feminismo, racismo, hierarquia social, violência policial e outros problemas sofridos pelas minorias. Confira alguns funks ativistas:
- Rap da Felicidade – Cidinho e Doca
Apesar do nome da música levar o nome “rap”, o gênero é Funk. A maior parte das pessoas já escutou essa música e, quando ela toca, muitos cantam juntos. Ela fez grande sucesso e traz uma mensagem sobre a diferença social no Brasil:
“Minha cara autoridade, eu já não sei o que fazer
Com tanta violência eu sinto medo de viver
Pois moro na favela e sou muito desrespeitado
A tristeza e alegria aqui caminham lado a lado
Eu faço uma oração para uma santa protetora
Mas sou interrompido à tiros de metralhadora
Enquanto os ricos moram numa casa grande e bela
O pobre é humilhado, esculachado na favela
Já não aguento mais essa onda de violência
Só peço a autoridade um pouco mais de competência”
- Não Foi Cabral – Mc Carol
Mc Carol é uma cantora de Niterói – RJ que faz várias letras denunciando problemas sociais. Uma delas, muito famosa, é ‘Não Foi Cabral’. A música começa com o instrumental do hino brasileiro e logo que começa a batida, a artista já lança uma polêmica. Ela afirma que Pedro Álvares Cabral não descobriu o Brasil. E ela vai além, denunciando o genocídio índio que os portugueses fizeram e também a época de escravidão no Brasil.
“Treze Caravelas
Trouxe muita morte
Um milhão de índio
Morreu de tuberculose
Falando de sofrimento
Dos tupis e guaranis
Lembrei do guerreiro
Quilombo Zumbi
Zumbi dos Palmares
Vitima de uma emboscada
Se não fosse a Dandara
Eu levava chicotada”
- Ai Como Eu To Bandida dois – Mc Mayara
Mc Mayara é uma funkeira curitibana de 22 anos que decidiu abraçar a causa feminista e o empoderamento da mulher em espaços que lidam com grande conotação sexual. Ela decidiu mostrar que mulher também pode falar sobre sexo e que não tem nada de negativo em ser “piranha” (afinal, se homens podem ser “pegadores”, mulheres também podem).
A música dela “Ai Como Eu To Bandida” fez muito sucesso, mas, quando gravou o clipe, muitas pessoas criticaram o fato de que a virilha dela estava muito marcada na calça, deixando uma “pata de camelo”. A cantora não teve dúvida: lançou outro vídeo e, dessa vez, fez questão de deixar a pata de camelo em evidência.
“Livre,leve,solta
Feliz e curtindo a vida
Ai como eu tô bandida
Saia, topzinho, E um copinho de bebida
Ai como eu tô bandida”
- Tá Pra Nascer Homem Que Vai Mandar Em Mim – Valesca Popozuda
Ex-Gaiola das popozudas, Valesca decidiu dar uma de Beyoncé e deixar o grupo para tentar carreira solo. A cantora sempre foi muito vocal sobre liberdade sexual e, depois de um tempo, decidiu abraçar a causa feminista também. Suas letras sempre exaltaram a mulher e sua sexualidade e, agora, além disso, Valesca também fala sobre o movimento feminista com as pessoas, com a mídia e com os fãs. Muitos de seus hits são ótimos para um começo de empoderamento feminino, como “My Pussy É o Poder”, música da época da Gaiola.
A canção Tá Pra Nascer Homem Que Vai Mandar Em Mim é uma das mais icônicas de independência feminina que a cantora tem.
“Tá pra nascer homem que vai mandar em mim
Tá pra nascer alguém que vai me esculachar
Tá pra nascer, e eu já falei pra tu
Se ficar me enchendo o saco, mando tomar”
- Fiscal – Mc Queer
O mundo do funk, além de ser machista, também costuma ser extremamente homofóbico. Isso faz com que não seja um espaço seguro para a população LGBT, mas esse quadro está começando a mudar. O Mc Queer mostra desde o seu nome que está aqui para inserir a comunidade LGBT no cenário do Funk. Queer é uma denominação em inglês que significa “não-heterossexual”, em termos mais brandos.
“Se eu apanho na paulista imagina na ruela
Não cai na real, mas tá de pé do lado dela
Liga o grindr na igreja
E aí, firmeza?
Não vai ter pra tu aqui
Se joga na pista e reza pra dançar com Mc Queer”
- Desabafo – Mc Xuxu
Assim como o Mc Queer, a Mc Xuxu se mostra como uma representação LGBT no mundo do Funk. Xuxu é uma artista transexual e se orgulha disso. Ela mostra que as pessoas trans podem sim serem inseridas em todos os espaços da sociedade, inclusive em espaços que são cheios de transfobia.
Sua música “Desabafo” conta um pouco sobre como ela se sente quando entra em contato com pessoas homo e transfóbicas.
“Com tanta coisa pra se preocupar
Tem gente perdendo o tempo
Querendo cuidar e mandar na minha vida
Testando a minha fé, subestimando o quanto eu sou forte
Deus nos pediu o amor,
Sei que te amo, mas não sou amada,
Te vejo como um ser humano
Enquanto você me vê como nada
Eu sei que ele olha por mim,
E esse dom ele me concedeu
Hoje eu sou mc, sou travesti, mas sou filha de deus”
- Encostei no Baile Funk – Mc Garden
O cantor Mc Garden é um funkeiro diferente. Ele não faz músicas sobre pegação e ostentação, muito pelo contrário. Todas as suas músicas têm a ver com alguma questão da atualidade. As suas letras abordam problemas políticos e sociais. “Encostei no Baile Funk” é quase como um meta-funk, que usa o gênero para criticá-lo. O artista usa sua música para trazer uma questão aos ouvintes do gênero: Por que muitos estão agindo do jeito inconsequente que agem?
“Encostei ali num baile funk
E fui vendo uns ‘bang’ que não era bom
É que eu vi os moleques de 13 com a cara de sono
E a latinha na mão
E essa lata já tava amassada
Em vez de refri tinha lança perfume
É o perfil do moleque que o pai fugiu da responsa
E a mãe não assume
E o dj não tinha consciência, nem experiência
Só fez piorar
Tocou logo um funk que dizia
Quem não baforasse não ia transar”