Ensinamentos da Baleia Azul

25/04/2017

O que o jogo da Baleia Azul nos ensina

Por Rosely Sayão
Publicado no jornal Folha de S. Paulo em 25/4/2017

As notícias sobre o jogo da Baleia Azul provocaram diferentes reações na sociedade. Primeiramente, elas colocaram na ordem do dia as reflexões e os debates a respeito do suicídio. Sabemos que o índice de suicídio vem crescendo no mundo todo, em todas as faixas etárias, em especial entre os jovens e adolescentes.

O Brasil segue essa tendência global, e o tema costuma ser tratado como tabu, ou melhor, não costuma ser tratado. A polêmica em torno da “Baleia Azul”, portanto, provocou pelo menos uma consequência produtiva. Falar sobre o suicídio, um assunto tão inquietante e espinhoso, é bem melhor do que silenciar.

São diversas as razões que nos levam a evitar conversas a respeito desse tema, mas a principal delas é o receio de colocar o suicídio em evidência para os jovens e, sem querer, apresentar essa possibilidade como uma saída para quem vive um problema –ou vários. Entretanto, o silêncio é ainda pior: é como se negássemos a existência dessa possibilidade, em vez de enfrentá-la.

Pois bem: logo após o primeiro impacto da Baleia Azul, que afetou famílias com filhos adolescentes, mudamos o jogo. Na internet, bem como nas rodas de amigos e conhecidos –presenciais e virtuais–, piadas e caricaturas do jogo começaram a mostrar uma outra face de nossas posições em relação aos mais jovens.

Primeiramente, um chinelo de dedo com a tira azul substituiu a baleia e se propagou rapidamente pela internet, sugerindo que o que os adolescentes que se aproximam de jogos perigosos precisam mesmo é de castigo para aprender a viver.

Logo após esse “meme”, surgiu um outro que, no lugar da baleia, mostra uma carteira de trabalho com o texto “É dessa baleia azul que os adolescentes precisam”. Curioso como a ideia de trabalho se aproxima à de castigo, não é?

Esses exemplos mostram o nosso despreparo para lidar com os adolescentes. Nós, que passamos a adolescência em um mundo com características diferentes do atual, ainda achamos que eles devem ser tratados como fomos –ou como imaginamos que fomos.

A maioria dos adultos não se lembra das angústias e inquietações que viveu nessa fase da vida e, por isso, trata com um certo desdém o sofrimento dos jovens.

Vamos relembrar: os adolescentes, no presente, sofrem uma pressão desmedida para que tenham sucesso escolar e pessoal, além de boa aparência, segundo determinados modelos; para que sejam populares; para que participem de determinados grupos sociais, e para que sejam felizes, muito felizes, porque damos “tudo o que não tivemos” a eles! E isso tudo é somado às inquietações de quem vive um momento de crise. Crescer dói, é preciso que lembremos sempre disso!

O que nossos jovens e adolescentes querem e precisam –e que pouco temos ofertado– é a nossa presença verdadeiramente interessada na vida deles.

Precisamos desenvolver empatia e compaixão pelos adolescentes: tentar trazer para nós o lugar que eles ocupam nesta época da vida para nos aproximarmos deles com intimidade, sem, porém, invadir sua privacidade; para dialogar sem moralismos; ouvir com atenção e interesse o que dizem abertamente e aprender a ler o que dizem nas entrelinhas.

“Conte comigo sempre.” É essa a mensagem que cada jovem e adolescente precisa ouvir dos adultos, principalmente dos pais e professores.