Rios completamente poluídos; a vida marinha ameaçada; verdadeiros lixões a céu aberto, contaminando solo e água; e até mesmo o deslizamento de uma montanha de lixo, resultando em mais de 100 mortes e desabrigados na Etiópia. Aparentemente, seguindo o mesmo ritmo, em pouco tempo não haverá mais espaço na Terra para o tanto de resíduos que produzimos.
Não restam dúvidas quanto à relevância da questão, com a necessidade urgente de uma redução profunda em nossa produção de lixo, além de alterações drásticas em nossos sistemas de coleta e reciclagem. Entretanto, será que a maior parte das pessoas tem a verdadeira noção da gravidade do problema? E as pessoas que têm, o que fazem para mudar? Será que essa questão tem gerado um debate adequado e qualificado em nossa sociedade?
Para responder a essas e outras questões, o Comunica que Muda mergulhou nas redes sociais por três meses, com o objetivo de analisar como os brasileiros veem o problema do lixo, e como isso os afeta. Foram analisadas mais de 125 mil menções, nos meses de dezembro de 2016, janeiro e fevereiro de 2017. Um levantamento completo que mostra em que pé está esse debate nas redes sociais do Brasil.
Como resultado, ficou claro que é quase impossível alguém declarar que o lixo não é um problema. Até porque, há um consenso de que a poluição e a degradação do meio ambiente são ruins. Entretanto, a conscientização sobre essa questão ainda está longe do ideal, principalmente no sentido de um debate mais profundo.
Dados do monitoramento mostram que a maior parte das menções, cerca de 53%, foi neutra, sem um juízo de valor sobre a questão. Já os comentários positivos, quando as pessoas reconhecem ou relatam problemas gerados pelo lixo, somaram 46%. Por fim, as menções negativas, ou quando alguém desconsidera o lixo como um problema importante, atingiram menos de 1% do total, até porque é muito difícil que alguém torne público esse posicionamento.
O alto número de menções neutras é justificado pela grande quantidade de compartilhamentos (26%), notícias (24%) e piadas (16%), com a maior parte dos comentários não expressando um posicionamento claro de quem está postando. As opiniões e relatos, quando alguém se posiciona ou conta uma situação que viveu, somaram pouco mais de 33% do total de menções.
Além disso, a maior parte das pessoas só dá a devida atenção a algum problema quando ela é diretamente atingida. Assim, alagamento foi o tema mais comentado, com 48% do total de problemas citados. Lixo na praia (25%), muito por conta do réveillon e do período de férias de verão, e lixo na rua (16%), também tiveram destaque.
Por outro lado, quando se trata de um problema mais distante, com o qual as pessoas não têm um contato direto, mesmo sendo afetadas, o número de comentários é muito menor. Por exemplo, os lixões, quando o termo não é usado como piada, apareceram em apenas 2,5% das menções, e com uma predominância de compartilhamentos de notícias. Já no monitoramento sobre reciclagem, o termo “coleta seletiva”, fundamental para ações de reciclagem com grande impacto, aparece em apenas 4,7% dos comentários.
O Comunica que Muda
O Comunica Que Muda (CQM), uma iniciativa digital da agência nova/sb, tem o objetivo de mostrar o poder da comunicação de interesse público como agente transformador na sociedade.
Ao combinar uma estratégia de constante monitoramento dos assuntos mais debatidos nas redes, aliada à ágil criação de conteúdos específicos, o CQM busca, por meio da alta relevância e incessante interação com seu público, realizar um objetivo maior: promover e qualificar o debate sobre temas fundamentais, mas que ainda carecem de espaço na sociedade brasileira – como a questão do lixo aqui investigada, da intolerância, objeto do nosso primeiro dossiê, ou da mobilidade, assunto do segundo dossiê, além da discussão sobre a descriminalização da maconha (tema de debate entre especialistas) e do suicídio, o próximo tema.
Confira o primeiro Dossiê sobre o lixo nas redes sociais do Brasil.