23/07/2016

Xeque

Xadrez em xeque

Xadrez em xeque

23/07/2016

Pesquisadores na Itália descobriram que as enxadristas mulheres ganham mais partidas quando não sabem qual é o gênero de seus adversários (Alex Wroblewski/NYT)

Disparidade de gênero desafia enxadristas

Texto do NYT publicado em 21 de julho de 2016 na Folha de S.Paulo

POR JOHN LELAND

Quatorze dos mais bem-classificados jovens mestres de xadrez dos Estados Unidos foram a Nova York recentemente para uma oficina de elite. Quatro deles eram meninas. Para os proponentes da paridade de gênero no xadrez, isso representou um avanço.

Numa mesa da frente da sala, enquanto vários garotos gritavam respostas a um problema de xadrez, Carissa Yip, 12, entregou um papel amarelo ao instrutor, Greg Shahade. “Você escreveu um lance apenas”, disse Shahade. “É isso?”

Carissa, que aos 11 anos se tornou a menina americana mais jovem da história a alcançar o grau de mestre, não titubeou. “É um lance brilhante”, respondeu, brincando.

É uma pergunta irritante que se repete em aulas de xadrez: por que, em um esporte em que as diferenças físicas não têm importância, meninos e homens se destacam muito mais que as meninas, apesar dos esforços feitos para atrair meninas e mulheres ao xadrez?

O grande mestre britânico Nigel Short inflamou a discussão no ano passado quando escreveu na revista “New in Chess” que é possível que o cérebro masculino seja mais apto para o xadrez e que “em vez de se afligir com a disparidade, talvez devêssemos simplesmente aceitá-la como fato, sem alarde”.

Em resposta, várias enxadristas mulheres, usando a hashtag “sexisminchess (sexismo no xadrez), relataram ter sido menosprezadas, assediadas, perseguidas ou paqueradas em torneios de xadrez. Uma das reações mais fortes veio da grande mestre aposentada Judit Polgar, que derrotou Nigel Short oito vezes, com apenas três derrotas e cinco empates.

A disparidade entre meninos e meninas deixa perplexos os educadores, para os quais o xadrez ajuda os estudantes a aprender a resolver problemas e adiar a gratificação, melhora a concentração e fomenta a socialização dos jogadores com seus pares. Nos torneios escolares, geralmente há dois ou três garotos para cada menina, e a brecha cresce à medida que o nível se eleva. Nenhum dos cem enxadristas de ranking mais alto no mundo é mulher.

As explicações desse desequilíbrio soam familiares: escassez de exemplos femininos a seguir, menos incentivo por parte de pais e professores, um ambiente pouco acolhedor para meninas num esporte que tradicionalmente sempre foi um clube do Bolinha.

Algumas escolas, como as da rede Success Academy, de Nova York, criam clubes ou torneios de xadrez separados para meninas. “Uma coisa que não ajuda muito é que a maioria dos instrutores é homem”, disse a executiva-chefe da rede, Eva S. Moskowitz. “Chamamos Judit Polgar e Irina Krush para jogar nas escolas. É inspirador para nossas alunas conhecer essas mulheres incríveis.”

Mesmo assim, disse Moskowitz, a porcentagem de meninas que jogam xadrez diminui ao longo dos anos escolares.

Pesquisadores em Pádua, na Itália, fizeram enxadristas homens e mulheres com classificações iguais disputar partidas on-line. No estudo de 2007, descrito no “The European Journal of Social Psychology”, quando as mulheres não sabiam qual era o gênero de seu adversário ou quando pensavam estar jogando com outra mulher, elas venciam cerca de metade das partidas. Mas, quando pensavam que seu adversário era homem, ganhavam apenas uma em cada quatro partidas. As mulheres jogavam menos agressivamente e manifestavam autoestima mais baixa quando jogavam contra adversários que pensavam ser homens. Os pesquisadores teorizaram que as mulheres se enxergam como minoria nos torneios e que isso as faz perder autoconfiança.

Considerada a melhor enxadrista mulher de todos os tempos, Polgar disse que o que muitas vezes dificulta o avanço das mulheres no xadrez é a falta de ambição; muitas vezes elas optam por jogar em eventos menos competitivos, exclusivos para mulheres.

“Não são muitas as mulheres que competem no nível mais alto. Mas muitas das mulheres gostam que os torneios sejam separados, porque assim elas também conseguem tornar-se campeãs mundiais. Só que elas poderiam se aprimorar e alcançar níveis mais altos.”