31/10/2016

Maconha

A guerra da comunicação em torno da legalização.

Maconha em debate nos EUA

31/10/2016

A maconha é pivô de uma guerra nos EUA. Dessa vez, a disputa é no campo da Comunicação. Está em jogo a legalização da maconha em 9 estados. No dia 08 de novembro, a população de Massachussetts e outros quatro estados norte-americanos (Arizona, Califórnia, Nevada e Maine) vão decidir, juntamente com a eleição presidencial, sobre a liberação ou não do uso recreativo da maconha. Já Montana, Dakota, Arkansas e Flórida decidirão sobre a liberação para uso medicinal.

A polêmica propaganda contra a legalização da maconha em Massachusetts (EUA) do vídeo acima mostra uma mãe apavorada com a exposição da filha pequena à droga, em meio a uma diversidade cada vez maior de produtos. O filme Neighborhoods (Vizinhança) é assinada pela Safe and Healthy MA, uma coalizão que reúne dezenas de políticos democratas e republicanos e associações variadas, inclusive da área médica como a Massachusetts Medical Society. Já no filme abaixo, do Arizona, um veterano de guerra conta como se livrou de uma série de medicamentos controlados usando a maconha medicinal.

A maconha continua mobilizando as opiniões, embora já esteja liberada para uso medicinal em 26 estados e recreativo em 4 – nos EUA são 51 estados. Entre os argumentos favoráveis estão o potencial de vício ser similar ou inferior a outras drogas como o álcool, amenizar o sofrimento de pacientes de várias doenças diferentes, a falência do combate às drogas e o potencial econômico de sua comercialização. Do lado oposto, a desconfiança sobre os impactos positivos da legalização. O governador do Maine, Paul LePage, foi classificado pelo Huffington Post como o “governador mais ignorante dos EUA” após veicular um vídeo com argumentos falsos sobre a maconha (confira aqui).

Mas não são só os conservadores que querem vetar a liberação do uso da maconha de forma recreativa. Pacientes que precisam da maconha medicinal e pequenos produtores temem que grandes empresas tomem o mercado, encarecendo o produto. “Por causa da dupla tributação e as taxas de licença, você não vai ter a medicação acessível”, reclamou o dono de uma loja de maconha medicinal de Sacramento, Lanette Davies, ao LA Times.  Uma pesquisa realizada pelo  Growers Association California, com 770 membros da indústria da maconha medicinal, revelou que 31% se opõem à legalização para fins recreativos. Outros 31% apoiam a medida e 38% estão indecisos. Com centenas de seus membros em oposição, a Associação de Produtores decidiu ficar neutro.

A dona de casa Sandra Yuhre, 58, é uma usuária de maconha medicinal que pretende votar contra a Proposição 64 – nome da lei que libera a maconha na Califórnia. Ela tem medo que a legalização irá forçá-la e ao seu marido, Rick, a recorrer ao mercado negro do produto (distribuído ilegalmente, sem tributação). “Eu vejo o custo vai subir muito e isso é uma grande preocupação para nós”, disse Yuhre ao LA Times.

O casal gasta US $ 300 a US $ 350 por mês com a maconha medicinal, um custo alto para pessoas que dependem do dinheiro do Serviço Social (uma espécie de aposentadoria por invalidez). Yuhre passou por uma cirurgia de câncer de mama e seu marido, um ex-soldador, sofre com as sequelas de um doloroso acidente de trabalho: suas pernas foram esmagadas por placas de aço. Apesar dos opositores, as pesquisas de opinião mostram que a maioria da população (51%)  é a favor da liberação da maconha para fins recreativos. Os que não querem a legalização somam 42% e 7% estão indecisos.

Campanhas bilionárias

De acordo com uma reportagem da Vice, até 20 de outubro, as campanhas a favor a legalização da maconha receberam mais de US$ 30 milhões em doações enquanto que as campanhas contrárias receberam apenas US$ 6 milhões. A disparidade vem em grande parte Califórnia, onde os defensores da legalização conseguiram US $18,1 milhões enquanto que os contrários conseguiram arrecadar apenas US$ 2 milhões. Os investidores da campanha pró-legalização estão de olho em um mercado que vai movimentar US $ 6,7 bilhões em vendas este ano, segundo a empresa de pesquisa ArcView Group, e US$ 20 bilhões por ano até 2020.

A ofensiva contrária, no entanto, tem feito muito barulho em alguns estados a ponto de impactar a opinião pública. No Arizona, o bilionário magnata dos cassinos, Sheldon Adelson, doou 500 mil dólares para as campanhas anti-legalização da Arizonans for Responsible Drug Policy  (ele também fez doações para Flórida, Nevada e Massachusetts). Como ele, outros bilionários como os donos da Discount Tire e Sopas Campbell já fizeram doações milionárias à ONG do Arizona. Adelson tem motivos pessoais: seu filho morreu em decorrência de abuso de drogas.

A guerra foi além da Publicidade. A disputa também está no noticiário. Uma das principais armas da campanha contra a liberação do uso recreativo da maconha no Arizona é uma reportagem veiculada pela emissora de TV Denver Channel (do Colorado), veiculada em agosto deste ano, questionando para onde vai o dinheiro da maconha. Segundo a matéria, os milhões arrecadados com a legalização não melhoraram as escolas públicas do Colorado. Confira o vídeo abaixo.

Uma outra reportagem do 9 Channel, da rede NBC, explica que, embora o produto seja sobretaxado, o volume de dinheiro do mercado da maconha não é tão grande como se pensa. O total arrecadado no último ano – US$ 129 milhões – representada apenas 1,3% da receita do Colorado, que arrecadou US$ 10,3 bilhões. De acordo com a reportagem, boa parte dos recursos da cannabis realmente vão para a Educação mas não são suficientes para fazer grandes transformações nas escolas públicas.

Indústria farmacêutica contra a maconha

Em agosto, a empresa farmacêutica Insys Therapeutics também citou preocupações com a segurança das crianças quando, com uma contribuição de US $ 500 mil, se tornou a maior doadora para a associação anti-legalização do Arizona. Mas suas preocupações causaram desconfiança. Insys fabrica SUBSYS, um analgésico derivado do fentanil, o opiáceo sintético que é até 100 vezes mais potente do que a morfina.

A Purdue Pharma e Abbott Laboratories, fabricante do analgésico OxyContin e Vicodin, respectivamente, estão entre os maiores contribuintes para a Coalizão Anti-Drogas da América. E a Pharmaceutical Research and Manufacturers of America, considerado um dos maiores opositores da legalização da maconha, gastou quase US $ 19 milhões em lobby em 2015. Com informações do The Guardian.