Os números são impressionantes. No ano passado, o relatório sobre prevenção ao suicídio da Organização Mundial da Saúde, OMS, fez um alerta: mais de 800 mil pessoas cometem suicídio por ano no mundo. Isso representa uma morte a cada 40 segundos.
Nos Estados Unidos, o tema é uma preocupação crescente das autoridades de saúde. A taxa de suicídio alcançou o patamar mais alto dos últimos 30 anos, revela uma análise de dados do governo americano. O índice atualmente é de 13 suicídios para cada 100 mil habitantes, o mais expressivo desde 1986. O suicídio é a segunda causa de morte para as pessoas entre 15 e 49 anos, superando todos os tipos de câncer e doenças cardíacas. Em todo o mundo, em 2010, tomou mais vidas do que as guerras, os assassinatos e os desastres naturais combinados. As informações são da revista Newsweek.
O aumento ocorreu “tanto entre os homens como entre as mulheres de todas as idades, de 10 a 74 anos”, segundo os dados, registrados pelas autoridades sanitárias. No entanto, o maior aumento foi entre as meninas de 10 a 14 anos, cuja taxa de suicídio triplicou. No total, 150 meninas dessa faixa etária se suicidaram em 2014, um aumento de 200% em relação a 1999.
De acordo com a revista, a situação pode ser ainda pior. É que muitos pesquisadores acreditam que há sub registro dos suicídios porque muitas são cometidas por veneno e pílulas, mais difícil de detectar que a morte foi intencional e não acidental. De acordo com o pesquisador Ian Rockett, da West Virginia University, a verdadeira taxa é pelo menos 30% maior que as estatísticas atuais, o que tornaria o suicídio três vezes mais comum do que o assassinato. No ano passado, a Organização Mundial de Saúde (OMS) estimou que “as taxas globais” de suicídio aumentaram cerca de 60% desde a Segunda Guerra Mundial. Nas estatísticas também não estão computados os comportamentos suicidas nem a média de 25 tentativas para cada morte oficial.
Porque as pessoas se matam
Por que as pessoas morrem por suicídio? Porque eles querem. Porque eles podem. A teoria é do pesquisador Thomas Joiner, da Universidade Estadual da Flórida – e o pesquisador que fala no filme que ilustra este post. Segundo, Joiner “o desejo” é a junção da sensação de estar sozinho com o sentimento de inadequação. E “a capacidade ” seria a perda do medo de morrer. A associação destes fatores seria determinante para que uma pessoa cometa o suicídio.
Segundo o pesquisador esta é uma “zona de perigo claramente delineada, um conjunto de três condições que se sobrepõem que se combinam para criar um beco escuro da alma”. Mas o que é alarmante é que cada condição em si não é extrema ou incomum, e o estado suicida combinado não é exatamente um estado de transtorno mental. Pelo contrário, o diagrama é composto de círculos de sentimentos que todos já experimentamos ou ao menos estivemos por perto. O mais aterrador é que as situações que levam ao suicídio são cotidianas, comuns.
Geração suicida?
Nos Estados Unidos, o aumento foi observado em homens e mulheres na faixa de 45 a 64. Nos Estados Unidos, a socióloga Julie Phillips, da Universidade Rutgers, foi um dos primeiros pesquisadores a associar aos suicídios de meia-idade de um significado mais profundo. Em 2010, ela e um colega declarou a faixa etária como uma nova zona de perigo para o suicídio.
De acordo com o novo relatório do Departamento de Saúde americano, o CDC, a taxa de suicídios saltou mais do que 50% entre homens brancos de meia-idade. A situação é ainda mais dramática para mulheres brancas de meia idade, que tiveram um aumento de 60% no mesmo período.
Prevenção difícil
Em outra matéria recente sobre o suicídio, publicada pelo The New York Times, as autoridades norte-americanas reconheceram que os esforços de prevenção do suicídio são desordenados no país.
A nova análise federal aponta que os métodos de suicídio estão mudando. Cerca de um quarto dos suicídios em 2014 envolveu sufocação, uma categoria que abarca enforcamento e estrangulação, ante menos de 1/5 em 1999. As mortes por sufocação são mais difíceis de prevenir porque quase qualquer pessoa tem acesso aos meios. As mortes por disparo de arma de fogo caíram tanto entre os homens como entre as mulheres – no caso das mulheres de 37% para 31% dos suicídios e no dos homens de 62% para 55%.
A disparidade na incidência de suicídios entre homens e mulheres está menor porque o número de suicídios vem crescendo mais rápido entre as mulheres do que entre os homens. Mas o número de homens que se suicidam ainda é 360% maior que o de mulheres. Ainda que o número de suicídios entre os adultos mais velhos tenha caído ao longo do período do estudo, os homens com mais de 75 anos ainda mostram a maior incidência de suicídio entre todas as faixas etárias –38,8 por 100 mil em 2014, ante apenas 4 por 100 mil entre as mulheres da mesma faixa.
No Brasil
No Brasil, o suicídio é a terceira causa de morte entre jovens, ficando atrás de acidentes e homicídios. Mais comuns entre a população adulta, os indicadores aumentaram entre os jovens : a taxa multiplicou-se por dez de 1980 a 2000, de 0,4 para 4 a cada 100 mil pessoas, de acordo com matéria publicada pelo jornal Folha de S. Paulo. Estima-se que ocorram 24 suicídios por dia no Brasil. O número de tentativas é até 20 vezes maior que o de mortes.
A psiquiatra da infância e da adolescência Jackeline Giusti, do Hospital das Clínicas da USP, afirma que é importante prestar atenção a sinais de automutilação nos adolescentes, porque a prática aumenta o risco de suicídio. “Professores, clínicos e pediatras têm que ficar atentos a essa possibilidade e investigar. É um sinal de que algo não está legal e merece cuidados”, alerta. Leia mais aqui.