Bombardeio anunciado

21/05/2007

Por Mauricio Lara

Uma decisão de governo deve ser precedida de avaliações quanto a diferentes implicações e conseqüências, tais como jurídicas, políticas, financeiras, ideológicas etc e tal. Modernamente, uma pergunta tem que ser incorporada ao processo de decisão: e do ponto de vista da Comunicação?

A resposta procurada é simples: qual a repercussão previsível de uma tal decisão? Se tivesse feito isso, o Ministério da Previdência, nos tempos de Ricardo Berzoini, por exemplo, não teria determinado que velhinhos com mais de 90 anos fossem a postos do INSS para se recadastrar. Ou seja, deveriam ir lá para mostrar que estavam vivos, porque havia sérias suspeitas de casos numerosos em que famílias continuavam recebendo benefícios previdenciários de cidadãos falecidos.

Era, portanto, uma meritória medida de combate a fraudes. Mas, por falta de previdência, sem trocadilhos, virou um “tiro no pé”, com graves prejuízos de imagem ao ministério e ao governo. E a bobagem não parou aí: depois de suspender a medida, o ministro Berzoini, questionado numa entrevista ao vivo, no jornal Bom Dia, Brasil, da TV Globo, disse que não precisava pedir desculpas aos velhinhos, porque tinham sido poucos os que foram às filas de recadastramento. Ora, se fosse um único velhinho, ele teria merecido desculpas, nominalmente.

Nos dias de hoje, em recente entrevista à Folha de S. Paulo, o Ministro da Previdência, Luiz Marinho, de forma cautelosa e clara, discorreu sobre mudanças que pretende ou necessita implantar na Previdência Social. O Ministro garantiu que direitos serão respeitados, mas ponderou que alguns temas precisam ser discutidos e/ou refletidos pela sociedade. É o caso das pensões vitalícias, explicou ele, mostrando uma situação hipotética: morre um homem jovem, deixando uma jovem viúva, universitária, sem filhos. Essa mulher passa a ter direito a uma pensão vitalícia. Com o tempo, ela qualifica-se, profissionaliza-se e volta a se casar. Ou seja, muda tudo em sua vida, mas ela continua recebendo a pensão vitalícia.

Nada mais lógico que o raciocínio do Ministro e nada mais previsível que a reação de quem teme ser prejudicado e já desconfia logo de qualquer intenção de autoridades públicas. Essa reação tende a ser virulenta e barulhenta, com uma lógica terrível: estão querendo mexer no direito das pobres viúvas. E, a partir daí, argumentos lógicos serão, provavelmente, insuficientes para retomar o fio da discussão.

Governos precisam aprender que temas polêmicos, que envolvem interesses coletivos e individuais, como uma reforma na Previdência, têm de ser tratados com coragem, mas, também, com cuidado. Ainda que lógicos, argumentos envolvendo viúvas e pensionistas, ou qualquer outra parte que será vista como mais fraca numa contenda, devem ser testados e avaliados. Senão, lá vem bombardeio. Ora, se o bombardeio é anunciado, porque não se preparar para ele antes dar o primeiro tiro?

Maurício Lara é Secretário de Comunicação da PUC Minas e sócio da Lara Agência de Comunicação e Pesquisa Ltda.